COISAS QUE ESCREVO


Poesias:

Ser Tão Feliz
O Mandacaru avisa:


Certamente o Sertão
Vai secar de tanta fome
Se não inundar de tanta esperança


Vai ser tão fértil de tanta água
Que dos olhos sertanejos cairão lágrimas
Para banhar mais ainda a Caatinha


Cantarão cantigas com safona
E outros invejosos
Falarão que tudo isto é cafona


Mas se for moda é história registrada
Feito gado, magro, marcado
Com a marca seca do congado


O que importa é que essa
História de seca, seque
Porque minha 'garganta' seca


Como secam as nuvens sem chuva
De tantos mugidos( gritos) de socorro
Pedindo que volte meu


Ser tão feliz.


Setembro 2002


Meu Pé de Tamarineiro


Tamarineiro maneiro 
Tem cem anos de frescor
Serve como sombra
Encanto, amor
Dentro do Tamarineiro é oco
Suas raízes são grandes
Cerca a vila do meu Avô
Tamarino Ele dá
Cobre o chão da casa de Azedo
Suas folhinhas entram sem permissão
Tamarineiro de infância a juventude.




Setembro de 2002




***


Campanha da Nike Stand up Spekea up

                                                                          
“Design é humanizar, elucidar e     contribuir com algo pra comunidade”
(MOK)
É notório que o designer tem o poder de transformar através de um objeto, uma marca, ou um símbolo os conceitos pré-estabelecidos pela sociedade, e de transformá-los em algo impactante ou agradável. Por trás desse poder há um controle e a criatividade do designer.




O design social é o conjunto da identidade visual de uma marca com a responsabilidade social e o impacto que isso tem na sociedade.Cabe ao designer desenvolver não somente um conceito, mas, acima de tudo, criar um mecanismo que solucione um problema social, através de pesquisas e projetos direcionados para isso.
Analisando a identidade visual da Campanha “Stand up Spekea up”, pode-se observar que foi desenvolvido não somente um produto (pulseiras), mas também toda uma campanha publicitária de cunho social contra o racismo. Representando as etnias negra e branca pelas cores preta e branca.


Essa Campanha chegou aqui no Brasil sem o propósito de ser uma ação contra o racismo nos campos de futebol, já que o problema solucionado pelo designer da Campanha é o combate ao racismo no futebol Europeu. “Em um país como o Brasil, onde as disparidades sócias e econômicas são gritantes, o designer deve ter um papel de contestador. Nesse sentido, acredito que o designer deva ter o poder de interferir na mensagem transmitida pelo trabalho”. Paula Astiz, designer.
As Leis tem um papel importante no combate ao racismo, elas demilitam o respeito aos direitos humanos. E no Brasil as campanhas contra o racismo são embasadas pelas leis, sendo o seu mais eficiente mecanismo de defesa contra o racismo. Leia a citação abaixo:


“O instrumento mais importante adotado pelo país, nesse sentido é a chamada Lei Afonso Arinos, 1851, que pune com pena de prisão de atos de preconceito de raça ou de cor em atividades comerciais, educativas, esportivas e na concessão de emprego na administração pública e em atividades privadas. Outros dois instrumentos legais; a Lei Caó de 1989, a Lei Paim de 1997; ampliaram a abrangência da Lei Arinos, impondo penas de prisão mais severas para a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional praticadas diretamente ou através de propaganda de qualquer natureza.” José Álvaro Moisés, sociólogo.
E as Leis a favor dos direitos humanos na Europa são rígidas contra a discriminação. Contudo a elaboração e a aplicação da campanha por parte do designer requer uma eficácia do seu poder mobilizador, agindo diretamente na sociedade. Admirável a Nike estar engajada na causa dos direitos humanos, em se tratando de uma mega empresa, onde o capital é o foco. Na Campanha “Stand up Spekea up” foram arrecadados mais de dez milhões de Euros.Campanha esta contra o racismo no futebol europeu. “Levante e Fale” tenta motivar os jogadores de futebol a se manifestarem contra o racismo. A força da marca Nike, divulga a Campanha e retém a atenção das pessoas para esta causa; desaguando numa discussão também sobre a Xenofobia (ódio aos emigrantes) em quase toda a Europa, onde pessoas são discriminadas por serem de outros países, etnias, credo e raça. Elas são agredidas verbal e fisicamente, sem nenhum pudor. Mas, o que levaria mesmo uma multinacional como a Nike a apoiar uma campanha contra o racismo?
O que e pode falar eticamente da Nike?Uma multinacional que fabrica matériais esportivos de alta tecnologia, mas desvaloriza seus operários oriundos de países subdesenvolvidos, como a Indonésia. Isso é quase contraditório, se não fosse uma nova proposta de marketing adotada pela atual Nike. Forças políticas mundias pressionam exigindo uma posição positiva das multinacionais em relação às causas sóciais. A responsabilidade social é um marco do novo milênio. Não se pode mais criar uma identidade visual sem ter um embasamento sócio-econômico e cultural. 
Todo esse programa de responsabilidade social faz parte de um plano de marketing da Nike. Investindo sua imagem em algo sólido, como causas que afligem a humanidade. Ter sua marca associada ao ato de cidadania transpõe sua consciência puramente capitalista?
O grande símbolo da campanha são as pulseiras emborrachadas lembrando algemas, uma preta e outra branca entrelaçadas, simbolizando a união entre brancos e pretos. Se pode notar uma percepção das pulseiras em relação ao seu público.  
Tentando influenciar os jogadores que o elo das cores das pulseiras motiva os bons resultados no gramado e fora dele. Essas pulseiras impulsionam os racistas, mesmo os que não assumem que o são, a acreditar que pode ser mais humano se aceitar seu companheiro que é de uma outra etnia; resultando em um placar favorável no jogo. Tarefa difícil essa, pois ainda ocorrem agressões em campo. O técnico da Espanha, Luís Aragonés, já deu motivo para muita polêmica quando, em um treino da seleção em questão, xingou o jogador francês Thierry Henry ao conversar com o seu atacante Reyes, que joga com o francês no Arsenal. Sendo flagrado por câmeras de televisão disse, “diga àquele negro de merda, que você é melhor que ele”. Talvez essa seria a matemática da Nike, para vencer esse jogo?
O capital seria somente o resultado de uma boa Campanha. Porém a Nike declara em seu site que não obtém nenhum benefício. Pode até não ser benefício financeiro, porém sua imagem fica bem na fita que nem diz a gíria no futebol. E faz um gol de placa no que diz respeito à associação de sua marca no combate ao racismo nos campos de futebol europeus.
O Brasil não é o foco da Campanha da Nike, apesar de jogadores como o brasileiro Roberto Carlos fazerem parte desta Campanha.O povo brasileiro adere ao movimento, por uma questão de modismo.O produto (pulseiras) é utilizado sem sequer ter a convicção da causa apresentada pela Nike.Poucos sabem, alguns ignoram mas todos usam.A maioria das pulseiras “Stand up Spekea up” presentes no país são falsas.Visto que, segundo as informações contidas no site da Nike, todas as pulseiras são comercializadas oficialmente na Europa.
O fundo da Campanha, que vem através da venda das pulseiras, é administrado pela Fundação Rei Balbuíno (KBF). Na Europa cada pulseira custa dois Euros. E tem o objetivo de apoiar projetos e iniciativas contra o racismo na Europa. 
Um designer com uma proposta social faz uma campanha voltada para o social, mesmo que o cliente seja uma empresa capitalista que busca estar dentro da conjuntura mundial atual. Isso se vê por que apesar do sucesso da campanha a Nike encerrou a fabricação das pulseiras, não dando explicação do porquê, mas apresentando ainda seu apoio no combate ao racismo, é bom salientar, nos campos de futebol.
Jamille Sodré*

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